Resumo:
No capítulo X do romance, Brás Cubas narra o episódio
de seu nascimento, as emoções comuns a todas as famílias que recebem o primeiro
filho: o orgulho dos pais com as primeiras palavras, os primeiros passos ... No capítulo XII,
vamos encontrá-lo menino de cinco anos, matreiro e inquieto, típico menino
diabo; maltrata os escravos,mente, esconde os chapéus das visitas, coloca rabos
de papel em pessoas graves, enfim, possui um comportamento maligno, contando
com a cumplicidade do pai e as orações inúteis da mãe. O tio cônego assume o
papel de crítico à educação baseada na superproteção paterna e na omissão
materna. A atuação do tio cônego contrapõe-se à vida
galante e às obscenidades do tio João, um dos frequentadores da casa, que mima
o garoto, ensinando-lhe muitas anedotas e malícias, assim conseguindo sua
estima. Como era de se esperar, o contexto familiar, que
lhe favorece e justifica as traquinagens prenuncia o adulto egocêntrico e
egoísta em que se transforma, como ele reconhece irônica e criticamente, em
relação à própria educação. Na juventude, envolve-se com Marcela, uma cortesã
espanhola por quem se apaixona e que o ama durante quinze meses e alguns contos de réis. Quando
o pai toma conhecimento das aventuras do filho, manda-o à Europa para os
estudos, aos quais pouco se dedica. Por ocasião da morte da mãe, volta ao Brasil e,
ainda abalado, passa a viver em retiro, na Tijuca, enamora-se da filha de D.
Eusébia, Eugênia, que era bonita e coxa. Por preconceito, foge da moça e volta
à cidade. Ao retornar à vida na corte, Brás Cubas almeja
casar-se com Virgília, num negócio arranjado pelo pai: era a filha de um
conselheiro que lhe arranjaria o cargo de deputado. Ambos os projetos falharam:
Brás Cubas perde a noiva e o cargo para Lobo Neves. Seu pai
morre pouco depois e este, herdando sua fortuna, não precisa de sacrifícios
para viver. Por causa dos bens, rompe com a irmã Sabina e passa a levar uma
vida solitária. Mais tarde, consegue o amor adúltero de Virgília
e retoma os laços de família. Nessa época, encontra um amigo de infância,
Quincas Borba, mendigo que se diz filósofo; este lhe rouba o relógio e desaparece. Retorna tempos
depois, enriquecido por uma herança,
devolve o relógio e tenta expor-lhe a teoria do Humanitismo, fazendo de Brás
Cubas seu discípulo. Lobo Neves, que parece desconfiar do adultério,é
nomeado presidente de província e são obrigados a deixar o Rio de Janeiro. Os
amantes separam-se.
A irmã de Cubas arranja-lhe uma noiva, Eulália,
sobrinha de seu marido, Cotrim. Brás Cubas vê-se dividido entre o cortejo da moça
e a amizade de Quincas Borba, que
lhe expõe sua complicada filosofia baseada na felicidade absoluta do homem.
Quando está decidido a unir-se em casamento, Eulália é vitimada por uma
epidemia de febre amarela e morre. Dois anos depois, Brás Cubas torna-se deputado e
continua solteiro. Aos 50 anos revê Virgília e sente-se velho, percebe que sua
vida se esgotava. O amigo filósofo o consola e anima..
Tenta fundar um jornal em conjunto com Quincas
Borba, mas fracassa nos primeiros exemplares.
Morre Lobo Neves e reencontra Virgília sofrendo a
perda do marido.
Tempos depois, Quincas Borba parte para Minas
Gerais onde queima os manuscritos da teoria filosófica, retorna louco e morre
tempos depois.
Assim, de fracasso em fracasso, conduz-se a
travessia de Brás Cubas, personagem símbolo da ironia machadiana quanto ao
ideal burguês de vencer na vida, especialmente representado através do
Humanitismo.
Inventar um emplasto contra a
hipocondria, um remédio miraculoso que curaria todos os males da humanidade, constitui
a última tentativa de Brás Cubas - o seu último projeto - sem sucesso como
todos os outros - ironicamente impedido pela morte do protagonista: ao preocupar-se com o projeto, descuida-se da
saúde contraindo pneumonia ao sair de casa a fim de patentear o invento. E
assim torna-se defunto autor, confessando que até o saldo que leva para a outra vida é negativo - não teve filhos e
assim não transmitiu o legado das misérias humanas.
O romance é
narrado em primeira pessoa, pelo personagem protagonista Brás Cubas, que se
intitula “defunto autor” e coloca,assim, em cheque os propósitos básicos das
obras Realistas - a questão da verossimilança e a imparcialidade dos
narradores, pois não é real um fantasma escrever uma obra, sobretudo um
fantasma que está envolvido com a matéria que vai narrar, sendo dela o
personagem principal.
Brás Cubas quer
fazer o leitor acreditar que é onisciente, afirmando que na condição de morto
já não tem nada a temer da punição humana; no entanto deixa pistas de sua falsa
onisciência. No início, por exemplo, compara sua obra ao “Pentateuco”, escrito
por Moisés, para em seguida afirmar que só tinham onze pessoas em seu velório.
Ou seja, temos aí um narrador narcizista que escreve para se colocar numa
posição de superioridade em relação ao leitor. Já no prólogo confessa não dar
importância que talvez seja lido por
cinco leitores e que, se não gostarem do livro, dá-lhes um piparote. Na verdade, o objetivo do autor é
quebrar com os laços de cumplicidade comum nos textos românticos, exigindo
postura crítica do leitor.
Brás Cubas conta
sua história através de uma postura irônica, escondendo sua trajetória
inglória, atribuindo a culpa de seus fracassos aos demais personagens. Texto
Realista, na medida que o desvendamento de sua ironias permite-nos reconhecê-lo
imperfeito e contraditório, como qualquer ser humano.
Enquanto
personagem, Brás Cubas foi traído pela prostituta Marcela, que o amou por
alguns meses e outros contos de réis, não se casou com Virgília, não foi
deputado quando desejava, não chegou a ministro de estado, foi roubado pelo
amigo Quincas Borba, a noiva Eulália morreu, seu jornal faliu,não teve a
celebridade do emplastro, cujo projeto o levou à morte ... e até mesmo o saldo
de sua vida é negativo: Não teve filhos e assim não transmitiu para a espécie
humana o legado da nossa miséria. Temos o percurso do protagonista como uma
enfiada de decepções e vemos, assim, aplicada na obra literária de Machado de
Assis a concepção pessimista da filosofia Determinista de Schopenhauer, de que
o homem está fadado ao sofrimento por pressões morais, sociais, leis físicas e
até causas hereditárias.
O protagonista e
narrrador do romance -egoísta e egocêntrico, irônico e com ar superior,
constitui uma inversão dos heróis do mundo burguês, que aparecem na literatura
realista, cujo objetivo é sempre sair-se
bem, caracterizados pela ascensão social relativizada por algum fracasso no
plano afetivo. Brás Cubas não tem sucesso em nenhum setor, tornando-se
antimodelo, através do qual Machado ironiza impiedosamente os valores burgueses
e humanos de modo geral.
Quanto à Linguagem,
há aspectos relevantes na obra que inovam totalmente os textos da literatura
brasileira, tais como o diálogo crítico com o leitor; a narração fragmentária,
cortada por capítulos que explicam outros, interrupções para discutir a
escrita, histórias que aparentemente não mantêm relação com o enredo, enfim,
elementos para exigir o esforço organizador do leitor, além da ironia à
estrutura social vigente (sociedade escravocrata em descompasso com o
liberalismo europeu) e o pessimismo,que reproduz uma das correntes filosóficas
da época, incorporando em arte o cientificismo dominante
- FICHA DE LEITURA .
Gênero
Literário:
Romance Digressivo – não se prende a construir uma narrativa onde
predomine a evolução das ações do enredo, mas
faz reflexões sobre assuntos que fogem ao eixo central da narrativa e
uso de histórias paralelas ( Exs. “ A propósito de Botas” – cap. XXXVI :
histórias de Vilaça , Marcela, D. Plácida, Prudêncio....)
Inspirado na obra Diálogo dos Mortos ( Lucinao de
Samósata – Grécia – séc. II) , onde o filósofo Menipo de Gadara, depois de
morto, é o protagonista que ridiculariza o mundo dos vivos . Daí Memórias Póstumas ser
denominado “sátira menipéia” .
Influências do referido romance grego: ausência de enobrecimento dos
personagens; abordagem humorística de questões cruciais: a realidade, o
destino, a existência; liberdade em
relação aos ditames da verossimilhança (mortos não escrevem ) ; estados de espírito
aberrantes: desdobramento de personalidade, delírios, paixões descontroladas.
Narrador: Em primeira pessoa, é o protagonista Brás Cubas, que
conta a sua vida após a morte: “ não sou propriamente um autor defunto, mas um
defunto autor”, ou seja, alguém que cria uma espécie de Realismo Fantástico: os
mortos não têm nada a temer, podem contar toda a verdade. Mas fantasmas não
escrevem!!!
Brás Cubas quer fazer o leitor acreditar que é onisciente. No entanto,
deixa pistas de sua falsa onisciência. No início, por exemplo, compara sua obra
ao Pentateuco, escrito por Moisés, para em seguida afirmar que só
havia onze pessoas em seu velório. Narrador narcizista que escreve para se
colocar numa posição de superioridade que não possui, passando a exigir postura
crítica do leitor.
Personagens:
O
PROTAGONISTA, Brás Cubas, constitui uma inversão dos heróis do mundo burguês,
que aparecem na literatura Realista, cujo objetivo é sempre sair-se bem,
caracterizados pela ascensão social relativizada por algum fracasso no plano
afetivo. Brás Cubas não tem sucesso em nenhum setor, tornando-se antimodelo,
através do qual Machado ironiza impiedosamente os valores burgueses e
humanos de modo geral.
Brás
Cubas foi traído pela prostituta
Marcela, não se casou com Virgília, não foi deputado quando desejava, não
chegou a Ministro de Estado, foi roubado pelo amigo Quincas Borba, seu jornal
faliu, não teve a celebridade do emplasto ... e até mesmo o saldo de sua vida é
negativo. Não teve filhos e assim não transmitiu para a espécie humana o legado
da nossa miséria. Aplica-se em sua vida a filosofia determinista de
Schopenhauer, de que o homem está fadado ao sofrimento por pressões morais,
sociais, leis físicas e até causas hereditárias.
OS
PERSONAGENS SECUNDÁRIOS são descritos pela ótica destruidora e narcisista do
narrador, todos corrompíveis e/ou marcados por alguma forma de fracasso. (
rever: Marcela, Lobo Neves, Cotrim, Quincas Borba, Virgília)
Tempo e
Espaço:
A sociedade das Memórias é
das classes altas da vida carioca do século XIX. Ao todo, a época representada
nesse romance vai do primeiro ao último reinado. Do lado oposto ao das
elites, mas como propriedade destas, estende-se a escravidão, urbana e
domiciliar. As elites abrangem os ricos, as pessoas de posse e de poder. Mas,
gravitando em torno delas há também gente das classes médias, constituídas de
funcionários, pessoas remediadas ou mesmo alguns pobres à cata de ascensão.
A sustentação do país era agrária, com ênfase na exportação de
matéria-prima, e na importação de manufaturados. Como exportadores, mostrávamos
a nossa primariedade. Como importadores, era a vaidade que predominava.
Importávamos cultura, objetos de ouro e prata, vestimenta, companhias
operísticas etc. Nossas elites eram precárias. Mas, assimilando o charme
europeu, desejavam mostrar-se como liberais, como avançados, coisa que na
prática não eram. A família de Brás Cubas chega a fazer um jantar para
comemorar a expulsão de Napoleão da França (capítulo XII). Mas era uma grande
incoerência comemorar o liberalismo europeu no seio de uma sociedade
escravocrata, como era a mesma família. Nossas elites desejavam compara-se às
européias. Mas como, se tínhamos escravos? Se éramos um mero país exportador de
matéria-prima e dependente?
Estilo do Autor:
Há aspectos relevantes na
obra que inovam totalmente os textos da Literatura Brasiliera: o diálogo
crítico com o leitor; a narração fragmentária, cortada por capítulos que
explicam outros, interrupções para discutir a escrita, histórias que
aparentemente não têm relação com o enredo, enfim, elementos para exigir o
esforço organizador do leitor, além da
ironia à estrutura social vigente (sociedade escravocrata em descompasso com o liberalismo europeu) e o
pessimismo , que reproduz a corrente filosófica Determinista Pessimista de
Schopenhauer, incorporando em arte o cientificismo dominante, sem contar a
ironia às diversas correntes
científicas, através da Filosofia “Humanitismo” lançada por Quincas Borba neste
romance e desenvolvida no romance seguinte, paródia do evolucionismo e
Positivismo, que a nada leva, a não ser o seu autor à demência e à morte.
Estilo de Época
Do Realismo o romance
apresenta o propósito de engajamento literário ( a narrativa reproduz o próprio
contexto social da época em que foi escrito), os personagens são seres humanos caracterizados por muitos vícios e poucas
virtudes, a questão da infidelidade e da sociedade de aparências; a sondagem, a
especulação do íntimo do homem, vítima de suas paixões e de sua vaidade.
Principais temas:
“ O menino é pai do homem”
( a criança traz em si o prenúncio do adulto com todos os seus vícios e
defeitos);
a morte é o fim das ilusões;
pessimismo na definição da vida: a vida é um palco;
o tempo passa inexoravelmente.
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