quinta-feira, 9 de maio de 2013

Literatura! Memórias de Um Sargento de Milícias


Memórias de Um Sargento de Milícias Manuel  A . de Almeida.


I- Enredo
Leonardo, herói das memórias, nasceu de um romance sui generis. Leonardo Pataca, seu pai, e Maria da Hortaliça, quitandeira das Praças  de Lisboa, saloia rechonchuda e bonitona. Conheceram-se num navio e após algumas pisadelas e beliscões foram morar juntos. Transcorridos sete meses, teve Maria um filho, formidável menino de quase três palmos de comprimento, gordo, vermelho, cabeludo, esperneador e chorão. Era Leonardo.
Traquinas, Leonardo foi abandonado pelo pai, aos sete anos, após a fuga de Maria da Hortaliça, para Portugal, com o capitão de um navio – seu novo amante. Com um pontapé, o pai – que na época desempenhava a função de meirinho (oficial de justiça), manda-o fora de casa. Leonardo, então, é recolhido pelo padrinho, o barbeiro vizinho. Mas suas estrepolias não cessaram, fato que causou sérias desavenças entre a madrinha de Leonardo, a vizinha e parteira, e o padrinho, já que este último fazia vistas grossas às travessuras do afilhado.
O barbeiro ensinou-lhe, com muito custo, as primeiras letras, pois tencionava fazê-lo clérigo. Na escola, suas artimanhas se intensificaram. Passados dois anos, Leonardo abandonou  a  escola e ingressou, como coroinha, na Igreja, pois via ali lugar adequado para melhor prepará-lo. Mas teve lá estadia breve: o padre enxotou-o, tantas foram as desordens que provocou.
Neste ritmo, Leonardo cresceu, sem, entretanto, dar para nada do que o padrinho pretendia fazer dele. Tornou-se um vadio. Já moço, andava às tontas, sem Ter qualquer preocupação. Sua primeira paixão foi despertada por Luisinha, sobrinha de d. Maria, senhora rica que tinha por hábito discutir questões jurídicas. Mas Luisinha  logo ficou comprometida com José Manuel, um espertalhão à procura de dotes,.
O padrinho de Leonardo morre. Ao saber dos bens herdados pelo filho, Leonardo Pataca, que após amores mal sucedidos com uma cigana passou a viver com Chiquinha, a sobrinha da comadre, aparece para tomar conta do filho. Leonardo revive, então, o episódio da infância: é expulso pelo pai após uma série de desentendimentos com Chiquinha.
Andando sem rumo, encontra um grupo de jovens. No meio deles, reconhece um antigo companheiro de traquinagens. Tomás da Sé, que havia sido, junto com ele, coroinha. É convidado para hospedar-se numa espécie de cortiço, onde conhece Vidinha, mulata de cerca de 20 anos, por quem se apaixona.
Após algum tempo, Leonardo é preso por vadiagem pelo Major Vidigal. Mas consegue fugir antes de chegar à cadeia. Para livrá-lo  das perseguições de Vidigal, a madrinha lhe arranja um emprego na despensa real  .Mas o rapaz mete-se em encrencas ao tentar conquistar a esposa de um companheiro de trabalho. Então é despedido.
Novamente preso, desta vez não foge. Torna-se soldado e passa a auxiliar diretamente o Major Vidigal, nas batidas policiais. Numa dessas diligências, é incumbido de prender um bicheiro, Teotônio. No entanto, ao contrário do que lhe havia sido ordenado, Leonardo auxilia a fuga do bicheiro, indo novamente preso.
A madrinha, sabendo da prisão do afilhado, procura uma ex- amante do major, Maria Regalada, para que esta interceda em favor do relaxamento da prisão de Leonardo, que não só é libertado, como é promovido ao cargo de Sargento de Milícias.
Leonardo volta a encontrar Luisinha, que ficara viúva. Casam-se e Leonardo recebe uma carta do pai, na qual o chamava para entregar o que lhe deixara o padrinho, fortuna que o barbeiro arranjara roubando de um capitão moribundo de um navio, e que se achava religiosamente intacta. 





FICHA DE LEITURA

Narrador:
Em terceira pessoa; trata-se de um narrador observador, que interfere, brinca ironiza as situações vividas pelos personagens. Os costumes e as práticas da época não escapam ao seu juízo crítico e gozador. Não raras vezes opina a respeito do que conta com indisfarçável  tom de deboche.
Dirige-se ao leitor para pedir-lhe a cumplicidade, saltando da terceira pessoa para a primeira do plural, em nome da manutenção do interesse pela obra.

Personagens:
Fugindo dos tradicionais textos do Romantismo, o autor nos apresenta personagens que não são nem proprietários nem escravos, mas pouco considerados em sua representatividade social. À medida que lutam pela sobrevivência, os personagens agem de acordo com a necessidade, transitando livremente entre o bem e  o mal, sem moralismos ou escrúpulos, uma vez que suas virtudes compensam seus pecados. É o que se verifica, por exemplo, no comportamento  do barbeiro, padrinho de Leonardo, cuja fortuna mal adquirida depois o reabilita À medida que é utilizada nobremente, para  garantir o futuro do afilhado.
Além da lei das compensações, gerada pela necessidade da sobrevivência, há ainda outra característica interessante do comportamento desta classe social, a que o crítico Roberto Schwarz chama de política do favor , da qual parece nascer o famoso jeitinho brasileiro, em que uma mão lava a outra. O compadre, assim, ajuda Leonardinho, sendo ajudado pela comadre nesta função. A comadre, por sua vez, pede ajuda a D. Maria, e esta a Maria Regalada, para salvar Leonardinho das mãos do Major Vidigal, que pela sedução da ex- amante, é atraído ao universo da desordem.
Então o ‘uma mão lava a outra’, e o “jeitinho brasileiro da ‘política do favor” somando-se à amoralidade, constituem  não só os traços que diferenciam a nossa classe popular, com  também em sentido mais amplo, caracterizam uma especificidade da cultura brasileira, que posteriormente será desvendada por Machado de Assis.
Leonardinho:
primeiro anti- herói  dos romances brasileiros, Fruto de um beliscão e uma pisadela, não vem de uma linhagem nobre e nem sequer a narativa lhe apresenta o sorenome. Considerado “herói malandro” ou “pícaro”, um vagabundo contumaz que vive às custas do padrinho; sem um emprego definido , fugindo das perseguições do major Vidigal e vivenciando alguns envolvimentos amorosos. Encarna o tipo do amalndro amoral que vive o presente, sem qualquer preocupação com o futuro.


      Tempo e espaço :

“Era o tempo do rei.” A narrativa se desenrola durante o período em que D. João VI esteve no Brasil. Distanciando-se no tempo, ganha qa dimensão de crônica ou livro de memórias de um passado não muito remoto em relação ao tempo do narrador. Nesse confronto entre o pasado e o presente da narração, há um tom nostálgico, através do qual se percebe a valorização do que já passou. MAs o passado não é visto com a idealização romântica, e sim com as minúcias dos aspectos documentais da obra, ligados à estética realista.
Vivida no Rio de Janeiro, a história recria o espaço urbano carioca do tempo do rei e povoa suas ruas de festas, procissões e comportamentos populares que descambam para  a desordem(como por exemplo xeretar , através das janelas, ao casa alheia), sendo os fatos narrados com bom humor e veia crítica, por isso denominado “Romance de Carnavalização dos costumes”.

Linguagem :
Estilo coloquial, direto resgatando com fidelidade o português popular da época, traço que o distingue mais uma vez dos romances tradicionais em estilo pomposo.
A oralidade, a coloquialidade, o tom de crônica jornalística, aproximam a linguagem desta obra  da literatura Modernista, segundo a qual  a linguagem literária deveria reproduzir a oralidade.

Estilo:
A tradição a que parece ligarem-se mais adequadamente as Memórias é a romântica: tendência ao pessoal, à vida íntima do protagonista, suas experiências sentimentais, evocação da história de uma época ( “era o tempo do rei”), história de happy end. No entanto, há características que distanciam a obra do Romantismo tradicional: classes de baixa renda, protagonista anti-herói, cenas reais, não idealizadas, não há o maniqueísmo romântico ( bem x mal) , sentimentalismo substituído por humorismo, estilo oral e descontraído.


“ Vale a pena Ler de novo”:
Capítulo 3:  carnavalização dos costumes  /  Capítulo 9: o livre passeio entre a moralidade e a imoralidade   /  capítulo 11: inclusão do leitor na narrativa   / capítulo 15: a oralidade, os diálogos   /   capítulo 18: Luisinha,  anti-heroína romântica. 

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