quinta-feira, 7 de novembro de 2013

Literatura! Memórias Póstumas de Brás Cubas, Machado de Assis

Resumo:
         No capítulo X do romance, Brás Cubas narra o episódio de seu nascimento, as emoções comuns a todas as famílias que recebem o primeiro filho: o orgulho dos pais com as primeiras palavras, os  primeiros passos ...       No capítulo XII,  vamos encontrá-lo menino de cinco anos, matreiro e inquieto, típico menino diabo; maltrata os escravos,mente, esconde os chapéus das visitas, coloca rabos de papel em pessoas graves, enfim, possui um comportamento maligno, contando com a cumplicidade do pai e as orações inúteis da mãe. O tio cônego assume o papel de crítico à educação baseada na superproteção paterna e na omissão materna.       A atuação do tio cônego contrapõe-se à vida galante e às obscenidades do tio João, um dos frequentadores da casa, que mima o garoto, ensinando-lhe muitas anedotas e malícias, assim conseguindo sua estima.       Como era de se esperar, o contexto familiar, que lhe favorece e justifica as traquinagens prenuncia o adulto egocêntrico e egoísta em que se transforma, como ele reconhece irônica e criticamente, em relação à própria educação.       Na juventude, envolve-se com Marcela, uma cortesã espanhola por quem se apaixona e que o ama durante  quinze meses e alguns contos de réis. Quando o pai toma conhecimento das aventuras do filho, manda-o à Europa para os estudos, aos quais pouco se dedica.      Por ocasião da morte da mãe, volta ao Brasil e, ainda abalado, passa a viver em retiro, na Tijuca, enamora-se da filha de D. Eusébia, Eugênia, que era bonita e coxa. Por preconceito, foge da moça e volta à cidade.       Ao retornar à vida na corte, Brás Cubas almeja casar-se com Virgília, num negócio arranjado pelo pai: era a filha de um conselheiro que lhe arranjaria o cargo de deputado. Ambos os projetos falharam: Brás Cubas perde a noiva e o cargo para Lobo Neves.     Seu pai morre pouco depois e este, herdando sua fortuna, não precisa de sacrifícios para viver. Por causa dos bens, rompe com a irmã Sabina e passa a levar uma vida solitária.       Mais tarde, consegue o amor adúltero de Virgília e retoma os laços de família.     Nessa época, encontra um amigo de infância, Quincas Borba, mendigo que se diz filósofo; este lhe  rouba o relógio e desaparece. Retorna tempos depois, enriquecido  por uma herança, devolve o relógio e tenta expor-lhe a teoria do Humanitismo, fazendo de Brás Cubas seu discípulo.     Lobo Neves, que parece desconfiar do adultério,é nomeado presidente de província e são obrigados a deixar o Rio de Janeiro. Os amantes separam-se.
     A irmã de Cubas arranja-lhe uma noiva, Eulália, sobrinha de seu marido, Cotrim. Brás Cubas vê-se dividido entre o cortejo  da moça  e a amizade  de Quincas Borba, que lhe expõe sua complicada filosofia baseada na felicidade absoluta do homem. Quando está decidido a unir-se em casamento, Eulália é vitimada por uma epidemia de febre amarela e morre.      Dois anos depois, Brás Cubas torna-se deputado e continua solteiro. Aos 50 anos revê Virgília e sente-se velho, percebe que sua vida se esgotava. O amigo filósofo o consola e anima..
      Tenta fundar um jornal em conjunto com Quincas Borba, mas fracassa nos primeiros exemplares.
       Morre Lobo Neves e reencontra Virgília sofrendo a perda do marido.
       Tempos depois, Quincas Borba parte para Minas Gerais onde queima os manuscritos da teoria filosófica, retorna louco e morre tempos depois.
       Assim, de fracasso em fracasso, conduz-se a travessia de Brás Cubas, personagem símbolo da ironia machadiana quanto ao ideal burguês de vencer na vida, especialmente representado através do Humanitismo.
       Inventar um emplasto contra a hipocondria, um remédio miraculoso que curaria todos os males da humanidade, constitui a última tentativa de Brás Cubas - o seu último projeto - sem sucesso como todos os outros - ironicamente impedido pela morte do protagonista:  ao preocupar-se com o projeto, descuida-se da saúde contraindo pneumonia ao sair de casa a fim de patentear o invento. E assim torna-se defunto autor, confessando que até o saldo que leva para  a outra vida é negativo - não teve filhos e assim não transmitiu o legado das misérias humanas.


 - Considerações Gerais.

O romance é narrado em primeira pessoa, pelo personagem protagonista Brás Cubas, que se intitula “defunto autor” e coloca,assim, em cheque os propósitos básicos das obras Realistas - a questão da verossimilança e a imparcialidade dos narradores, pois não é real um fantasma escrever uma obra, sobretudo um fantasma que está envolvido com a matéria que vai narrar, sendo dela o personagem principal.
Brás Cubas quer fazer o leitor acreditar que é onisciente, afirmando que na condição de morto já não tem nada a temer da punição humana; no entanto deixa pistas de sua falsa onisciência. No início, por exemplo, compara sua obra ao “Pentateuco”, escrito por Moisés, para em seguida afirmar que só tinham onze pessoas em seu velório. Ou seja, temos aí um narrador narcizista que escreve para se colocar numa posição de superioridade em relação ao leitor. Já no prólogo confessa não dar importância  que talvez seja lido por cinco leitores e que, se não gostarem do livro, dá-lhes um  piparote. Na verdade, o objetivo do autor é quebrar com os laços de cumplicidade comum nos textos românticos, exigindo postura crítica do leitor.
Brás Cubas conta sua história através de uma postura irônica, escondendo sua trajetória inglória, atribuindo a culpa de seus fracassos aos demais personagens. Texto Realista, na medida que o desvendamento de sua ironias permite-nos reconhecê-lo imperfeito e contraditório, como qualquer ser humano.
Enquanto personagem, Brás Cubas foi traído pela prostituta Marcela, que o amou por alguns meses e outros contos de réis, não se casou com Virgília, não foi deputado quando desejava, não chegou a ministro de estado, foi roubado pelo amigo Quincas Borba, a noiva Eulália morreu, seu jornal faliu,não teve a celebridade do emplastro, cujo projeto o levou à morte ... e até mesmo o saldo de sua vida é negativo: Não teve filhos e assim não transmitiu para a espécie humana o legado da nossa miséria. Temos o percurso do protagonista como uma enfiada de decepções e vemos, assim, aplicada na obra literária de Machado de Assis a concepção pessimista da filosofia Determinista de Schopenhauer, de que o homem está fadado ao sofrimento por pressões morais, sociais, leis físicas e até causas hereditárias.
O protagonista e narrrador do romance -egoísta e egocêntrico, irônico e com ar superior, constitui uma inversão dos heróis do mundo burguês, que aparecem na literatura realista, cujo objetivo é sempre  sair-se bem, caracterizados pela ascensão social relativizada por algum fracasso no plano afetivo. Brás Cubas não tem sucesso em nenhum setor, tornando-se antimodelo, através do qual Machado ironiza impiedosamente os valores burgueses e humanos de modo geral.
Quanto à Linguagem, há aspectos relevantes na obra que inovam totalmente os textos da literatura brasileira, tais como o diálogo crítico com o leitor; a narração fragmentária, cortada por capítulos que explicam outros, interrupções para discutir a escrita, histórias que aparentemente não mantêm relação com o enredo, enfim, elementos para exigir o esforço organizador do leitor, além da ironia à estrutura social vigente (sociedade escravocrata em descompasso com o liberalismo europeu) e o pessimismo,que reproduz uma das correntes filosóficas da época, incorporando em arte o cientificismo dominante


        - FICHA DE LEITURA .

Gênero Literário: 

            Romance Digressivo – não se prende a construir uma narrativa onde predomine a evolução das ações do enredo, mas  faz reflexões sobre assuntos que fogem ao eixo central da narrativa e uso de histórias paralelas ( Exs. “ A propósito de Botas” – cap. XXXVI : histórias de Vilaça , Marcela, D. Plácida, Prudêncio....)

Inspirado na obra Diálogo dos Mortos ( Lucinao de Samósata – Grécia – séc. II) , onde o filósofo Menipo de Gadara, depois de morto, é o protagonista que ridiculariza o mundo dos vivos . Daí  Memórias Póstumas ser denominado “sátira menipéia” .
Influências do referido romance grego: ausência de enobrecimento dos personagens; abordagem humorística de questões cruciais: a realidade, o destino, a existência;  liberdade em relação aos ditames da verossimilhança (mortos não escrevem ) ; estados de espírito aberrantes: desdobramento de personalidade, delírios, paixões descontroladas.   

Narrador: Em primeira pessoa, é o protagonista Brás Cubas, que conta a sua vida após a morte: “ não sou propriamente um autor defunto, mas um defunto autor”, ou seja, alguém que cria uma espécie de Realismo Fantástico: os mortos não têm nada a temer, podem contar toda a verdade. Mas fantasmas não escrevem!!!
Brás Cubas quer fazer o leitor acreditar que é onisciente. No entanto, deixa pistas de sua falsa onisciência. No início, por exemplo, compara sua obra ao Pentateuco, escrito por Moisés, para em seguida afirmar que só havia onze pessoas em seu velório. Narrador narcizista que escreve para se colocar numa posição de superioridade que não possui, passando a exigir postura crítica do leitor.

Personagens:
       O PROTAGONISTA, Brás Cubas, constitui uma inversão dos heróis do mundo burguês, que aparecem na literatura Realista, cujo objetivo é sempre sair-se bem, caracterizados pela ascensão social relativizada por algum fracasso no plano afetivo. Brás Cubas não tem sucesso em nenhum setor, tornando-se antimodelo, através do qual Machado ironiza impiedosamente os valores burgueses e humanos  de modo geral.
Brás Cubas  foi traído pela prostituta Marcela, não se casou com Virgília, não foi deputado quando desejava, não chegou a Ministro de Estado, foi roubado pelo amigo Quincas Borba, seu jornal faliu, não teve a celebridade do emplasto ... e até mesmo o saldo de sua vida é negativo. Não teve filhos e assim não transmitiu para a espécie humana o legado da nossa miséria. Aplica-se em sua vida a filosofia determinista de Schopenhauer, de que o homem está fadado ao sofrimento por pressões morais, sociais, leis físicas e até causas hereditárias.
OS PERSONAGENS SECUNDÁRIOS são descritos pela ótica destruidora e narcisista do narrador, todos corrompíveis e/ou marcados por alguma forma de fracasso. ( rever: Marcela, Lobo Neves, Cotrim, Quincas Borba, Virgília)

Tempo e Espaço:
A sociedade das Memórias  é das classes altas da vida carioca do século XIX. Ao todo, a época  representada  nesse romance vai do primeiro ao último reinado. Do lado oposto ao das elites, mas como propriedade destas, estende-se a escravidão, urbana e domiciliar. As elites abrangem os ricos, as pessoas de posse e de poder. Mas, gravitando em torno delas há também gente das classes médias, constituídas de funcionários, pessoas remediadas ou mesmo alguns pobres à cata de ascensão.
A sustentação do país era agrária, com ênfase na exportação de matéria-prima, e na importação de manufaturados. Como exportadores, mostrávamos a nossa primariedade. Como importadores, era a vaidade que predominava. Importávamos cultura, objetos de ouro e prata, vestimenta, companhias operísticas etc. Nossas elites eram precárias. Mas, assimilando o charme europeu, desejavam mostrar-se como liberais, como avançados, coisa que na prática não eram. A família de Brás Cubas chega a fazer um jantar para comemorar a expulsão de Napoleão da França (capítulo XII). Mas era uma grande incoerência comemorar o liberalismo europeu no seio de uma sociedade escravocrata, como era a mesma família. Nossas elites desejavam compara-se às européias. Mas como, se tínhamos escravos? Se éramos um mero país exportador de matéria-prima e dependente?

Estilo do Autor:
Há aspectos relevantes na obra que inovam totalmente os textos da Literatura Brasiliera: o diálogo crítico com o leitor; a narração fragmentária, cortada por capítulos que explicam outros, interrupções para discutir a escrita, histórias que aparentemente não têm relação com o enredo, enfim, elementos para exigir o esforço organizador do leitor, além da  ironia à estrutura social vigente (sociedade escravocrata  em descompasso com o liberalismo europeu) e o pessimismo , que reproduz a corrente filosófica Determinista Pessimista de Schopenhauer, incorporando em arte o cientificismo dominante, sem contar a ironia  às diversas correntes científicas, através da Filosofia “Humanitismo” lançada por Quincas Borba neste romance e desenvolvida no romance seguinte, paródia do evolucionismo e Positivismo, que a nada leva, a não ser o seu autor à  demência e à morte.

Estilo de Época

Do Realismo o romance apresenta o propósito de engajamento literário ( a narrativa reproduz o próprio contexto social da época em que foi escrito), os personagens são seres humanos  caracterizados por muitos vícios e poucas virtudes, a questão da infidelidade e da sociedade de aparências; a sondagem, a especulação do íntimo do homem, vítima de suas paixões e de sua vaidade.

 


Principais temas:

“ O menino é pai do homem” ( a criança traz em si o prenúncio do adulto com todos os seus vícios e defeitos);
a morte é o fim das ilusões;
pessimismo na definição da vida: a vida é um palco;

o tempo passa inexoravelmente. 

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