Aluísio Azevedo , 1890
O romance
focaliza a ascensão de um português, João Romão, dono de um cortiço e uma
pedreira cujos empregados, além de morar nos casebres por ele alugados,
endividam-se ao comprar fiado em sua
venda. Através dessa exploração, João Romão vai-se enriquecendo, auxiliado por
sua amante e empregada, Bertoleza, para quem ele havia providenciado uma falsa
carta de alforria.
O maior
desejo do vendeiro é conseguir boa posição social, além da fortuna, como seu
patrício Miranda, que mora no sobrado
encostado ao cortiço e é vítima da
inveja de Romão, por seus costumes refinados. Movido pela ambição, o
protagonista não hesita em usar os meios para acumular fortuna, roubando nos
pesos e nos trocos. Assim acumularia riqueza para ficar noivo da filha do
Miranda.
Enquanto
ocorre o processo de ascensão de João Romão, são focalizados outros
personagens, centros de pequenos enredos, mas que, no todo, funcionam como
instrumentos para a máquina de renda do proprietário do cortiço. São lavadeiras,
prostitutas, operários da pedreira, todos representantes de uma população
marginal que vive em um ambiente degradado e corruptor.
O cortiço é
o meio que parece adquirir vida própria, um personagem maior, que condiciona o
comportamento dos que ali moram, como é o caso de Pombinha, menina inocente
criada em colégio interno, não resistindo Às pressões do meio, é levada à
prostituição, por Leónie, sua madrinha, com quem também desenvolve um
relacionamento homossexual. O mesmo se dá com Jerônimo, o colono português,
mestre de obras da pedreira que, vindo morar no cortiço com a esposa Piedade é
arrebatado por uma paixão violenta por Rita Baiana, abandonando a família e a
vida regrada que vivia, tornando-se marginal e homicida.
Depois de
um incêndio no cortiço, motivado por uma vingança do cortiço Cabeça de Gato (
vingança à morte do Firmo, ex – amante de Rita ), João Romão transforma-o na
“Avenida São Romão”, com uma aparência cuidada
e ordeira, enquanto a população mais baixa e miserável se reúne em outro
local, reproduzindo a situação inicial do “Cortiço São Romão”, como se houvesse
um ideal de preservar a típica estalagem fluminense, onde há um rolo e um samba
por noite, onde se matam homens sem a polícia descobrir , viveiro de larvas ou
animais no brejo de lodo quente e fumegante, fazendo brotar vidas miseráveis em
meio à podridão.
Ao chegar À
plena ascensão, ampliando a venda, reformando a casa, que ostentava mais do que
o sobrado, refinando seus hábitos e maneira de vestir-se, João Romão prepara-se
para tomar como esposa a filha do Miranda. Era preciso , então, livrar-se de
Bertoleza, traste que lhe servira em outra época e agora adiava sua felicidade.
Assim, denuncia sua fuga aos antigos
donos, que vão buscá-la com a polícia. A escrava, percebendo a traição,
suicida-se.
Em seguida,
pára uma carruagem na porta do vendeiro, trazendo-lhe o título de sócio
benemérito de uma entidade abolicionista
Ficha de Leitura :
Personagens
: Todos são tipos, apresentados
como problema social urbano na realidade inferior do Rio de Janeiro. Do cortiço
saem personagens que estão sempre vinculados ao grupo e cuja ação resulta do
meio a que fazem parte. A narrativa se constrói em lutas, porém entre membros
de uma mesma classe: a burguesia dos dois sobrados e a popular dos cortiços.
Ganância x ganância, exploração x exploração ( Miranda e João Romão), cada qual
procurando explorar o máximo seus semelhantes. Enquanto no espaço do cortiço
destaca-se a luta entre o capoeira brasileiro e a força bruta do português (
Firmo e Jerônimo), a mulata sensual contra o provincianismo da portuguesa (
Rita Baiana e Piedade), as donzelas contra a prostituição favorecida elo meio (
Pombinha e Léonie)
Narrador: em terceira
pessoa, onisciente, seu propósito crítico é mostrar as mazelas morais e sociais
dos habitantes de um cortiço, no Rio de Janeiro, segunda metade do século XIX,
fundamentando-se na corrente determinista de Hypolite Taine, segundo a qual o homem é produto do meio, da raça e
do momento histórico.
Tempo e
Espaço: embora a obra tenha sido publicada em 1890, retoma os anos imediatamente
anteriores à abolição da escravatura e à Proclamação da República no Brasil ,
mostrando um Rio de Janeiro que se urbanizava desordenadamente.
Gênero da
Obra: Naturalismo – o meio social é mais importante do que o homem e
condiciona o seu caráter. Mostra uma sociedade, doente, patológica e sem
conserto. Todos os que se submetem a morar no cortiço são corrompidos pelo meio
corruptor.
O percurso de ascensão de
João Romão fundamenta-se na Lei de Seleção Natural de Darwin , ou lei da
sobrevivência do mais forte. É Assim que João Romão se apodera do Cortiço, de
Bertoleza e da pedreira como veículos que lhe garantem a plena ascensão social.
Daí vem a mudança de hábito, o noivado com Zulmira e a denúncia de Bertoleza
aos seus donos, livrando-se do traste para que pudesse se casar com a jovem
burguesa, filha do Miranda.
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