quinta-feira, 14 de novembro de 2013

O Cortiço

Aluísio Azevedo , 1890

O romance focaliza a ascensão de um português, João Romão, dono de um cortiço e uma pedreira cujos empregados, além de morar nos casebres por ele alugados, endividam-se ao comprar fiado  em sua venda. Através dessa exploração, João Romão vai-se enriquecendo, auxiliado por sua amante e empregada, Bertoleza, para quem ele havia providenciado uma falsa carta de alforria.
O maior desejo do vendeiro é conseguir boa posição social, além da fortuna, como seu patrício Miranda, que  mora no sobrado encostado ao cortiço  e é vítima da inveja de Romão, por seus costumes refinados. Movido pela ambição, o protagonista não hesita em usar os meios para acumular fortuna, roubando nos pesos e nos trocos. Assim acumularia riqueza para ficar noivo da filha do Miranda.
Enquanto ocorre o processo de ascensão de João Romão, são focalizados outros personagens, centros de pequenos enredos, mas que, no todo, funcionam como instrumentos para a máquina de renda do proprietário do cortiço. São lavadeiras, prostitutas, operários da pedreira, todos representantes de uma população marginal que vive em um ambiente degradado e corruptor.
O cortiço é o meio que parece adquirir vida própria, um personagem maior, que condiciona o comportamento dos que ali moram, como é o caso de Pombinha, menina inocente criada em colégio interno, não resistindo Às pressões do meio, é levada à prostituição, por Leónie, sua madrinha, com quem também desenvolve um relacionamento homossexual. O mesmo se dá com Jerônimo, o colono português, mestre de obras da pedreira que, vindo morar no cortiço com a esposa Piedade é arrebatado por uma paixão violenta por Rita Baiana, abandonando a família e a vida regrada que vivia, tornando-se marginal e homicida.
Depois de um incêndio no cortiço, motivado por uma vingança do cortiço Cabeça de Gato ( vingança à morte do Firmo, ex – amante de Rita ), João Romão transforma-o na “Avenida São Romão”, com uma aparência cuidada  e ordeira, enquanto a população mais baixa e miserável se reúne em outro local, reproduzindo a situação inicial do “Cortiço São Romão”, como se houvesse um ideal de preservar a típica estalagem fluminense, onde há um rolo e um samba por noite, onde se matam homens sem a polícia descobrir , viveiro de larvas ou animais no brejo de lodo quente e fumegante, fazendo brotar vidas miseráveis em meio à podridão.
Ao chegar À plena ascensão, ampliando a venda, reformando a casa, que ostentava mais do que o sobrado, refinando seus hábitos e maneira de vestir-se, João Romão prepara-se para tomar como esposa a filha do Miranda. Era preciso , então, livrar-se de Bertoleza, traste que lhe servira em outra época e agora adiava sua felicidade. Assim, denuncia  sua fuga aos antigos donos, que vão buscá-la com a polícia. A escrava, percebendo a traição, suicida-se.
Em seguida, pára uma carruagem na porta do vendeiro, trazendo-lhe o título de sócio benemérito de uma entidade abolicionista


Ficha de Leitura :

Personagens :  Todos são tipos, apresentados como problema social urbano na realidade inferior do Rio de Janeiro. Do cortiço saem personagens que estão sempre vinculados ao grupo e cuja ação resulta do meio a que fazem parte. A narrativa se constrói em lutas, porém entre membros de uma mesma classe: a burguesia dos dois sobrados e a popular dos cortiços. Ganância x ganância, exploração x exploração ( Miranda e João Romão), cada qual procurando explorar o máximo seus semelhantes. Enquanto no espaço do cortiço destaca-se a luta entre o capoeira brasileiro e a força bruta do português ( Firmo e Jerônimo), a mulata sensual contra o provincianismo da portuguesa ( Rita Baiana e Piedade), as donzelas contra a prostituição favorecida elo meio ( Pombinha e Léonie)

Narrador: em terceira pessoa, onisciente, seu propósito crítico é mostrar as mazelas morais e sociais dos habitantes de um cortiço, no Rio de Janeiro, segunda metade do século XIX, fundamentando-se na corrente determinista de Hypolite Taine, segundo  a qual o homem é produto do meio, da raça e do momento histórico.

Tempo e Espaço: embora a obra tenha sido publicada em 1890, retoma os anos imediatamente anteriores à abolição da escravatura e à Proclamação da República no Brasil , mostrando um Rio de Janeiro que se urbanizava desordenadamente.

Gênero da Obra: Naturalismo – o meio social é mais importante do que o homem e condiciona o seu caráter. Mostra uma sociedade, doente, patológica e sem conserto. Todos os que se submetem a morar no cortiço são corrompidos pelo meio corruptor.
O percurso de ascensão de João Romão fundamenta-se na Lei de Seleção Natural de Darwin , ou lei da sobrevivência do mais forte. É Assim que João Romão se apodera do Cortiço, de Bertoleza e da pedreira como veículos que lhe garantem a plena ascensão social. Daí vem a mudança de hábito, o noivado com Zulmira e a denúncia de Bertoleza aos seus donos, livrando-se do traste para que pudesse se casar com a jovem burguesa, filha do Miranda.












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